Na unidade, especializada em diagnosticar e tratar doenças cardíacas e pulmonares, há, inclusive, idosos dormindo nessas condições, conforme denúncia à reportagem. Muito por falta de leitos ou poltronas, mas, também, devido à espera de dias por uma transferência para outros hospitais da rede estadual.
"Tem muito paciente deitado no chão porque as cadeiras são bem duras. São idosos. Ficam sentados aguardando que sejam transferidos [para outro hospital] ou consigam um leito. [...] No sábado, tinha um paciente que já estava lá [na mesma situação] há três dias, também aguardando transferência", relatou a filha de um desses enfermos, que terá sua identidade preservada. O pai dela, de 62 anos, deu entrada na unidade no último sábado (26) para tratar uma obstrução de veias coronárias.
Além de não ter um lugar adequado para ser tratado, o pai da denunciante também não tem sido medicado devidamente, de acordo com ela. "Ele está naquelas cadeiras da recepção porque não tem leito. Ele toma insulina e está sem tomar. Até então, não tinham dado [o remédio]. Passam dizendo que vão medicar, mas não vão", cobrou a filha.
Imagens obtidas pela reportagem mostram pacientes dormindo no chão, cobertos por lençóis brancos, enquanto outros utilizam cadeiras de plástico com acolchoamentos improvisados com mantas para descansar os pés.
O Diário do Nordeste procurou a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para saber quantos leitos do Hospital de Messejana estão ocupados e qual a demanda, atualmente, da unidade. Também foi questionado diretamente se o local enfrenta uma superlotação.
Em resposta, o hospital ignorou a solicitação sobre os dados e não mencionou nada sobre estar no limite da capacidade de atendimento, mas informou que "faz, diuturnamente, o monitoramento de altas para agilizar as internações na instituição" e que "realiza a transferência de pacientes com menor complexidade para hospitais secundários parceiros". Além disso, destacou que, mensalmente, a unidade atende quatro mil pacientes na emergência e interna mais de mil pessoas.
"Os profissionais do Hospital de Messejana prestam assistência a todos os pacientes que dão entrada na Emergência da unidade. O espaço dispõe de cadeiras e poltronas para a pessoa que está recebendo atendimento clínico e seu acompanhante. A instituição ressalta que nenhuma pessoa é orientada a deitar-se no chão do local", resumiu a pasta.
O Sindicato dos Médicos do Ceará tem acompanhado a situação no Hospital de Messejana. "Lá, realmente, está superlotado. Tem pacientes que estão gravíssimos, em estágios avançados, sentados em cadeira porque não tem maca para eles", declarou o presidente da entidade, Edmar Fernandes.
Gerenciado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o Hospital de Messejana recebe pacientes de todo o interior do Estado e até de outras regiões do Brasil.
Mesmo quando é o acompanhante e não o paciente que, por cansaço, se deita no chão, há risco para o tratamento, uma vez que é o ajudante quem tem contato mais próximo com o enfermo e quem dá banho nele. "Se a higiene é fundamental para o sucesso de uma terapia, se é uma prioridade nossa, uma pessoa deitar no chão, mesmo acompanhante, vai sair contaminada, vai tocar na pessoa [doente] e vai multiplicar a possibilidade de infecção hospitalar", comentou.
Edmar afirmou ainda que o Hospital de Messejana é "bem referenciado" e, por isso, recebe pacientes dentro do perfil da unidade, o que aumenta o risco de um tratamento feito em local inadequado. "São pacientes cardíacos, por isso é até mais grave", compreendeu. Situação que, segundo ele, também afeta os profissionais que trabalham no hospital, que acabam atuando em condições mais estressantes e com recursos insuficientes.
Uma possibilidade de melhorar esse cenário, no entendimento do presidente sindical, seria otimizar a regionalização da saúde, com a instalação de mais hospitais de referência no interior do Estado, diminuindo a demanda sobre a Capital, e investir em prevenção e cuidados relacionados ao envelhecimento da população.