A semana política no Ceará foi marcada por uma movimentação de bastidores com potencial para influenciar o xadrez eleitoral no Estado. Com Ciro Gomes no centro da discussão, a possível fusão entre PSDB e Podemos, em âmbito nacional, gerou repercussões imediatas, causou desconfortos e acirrou disputas pelo comando da nova sigla no Ceará.
Embora tenha motivações claras no plano nacional — somar forças para superar a cláusula de barreira e manter relevância partidária —, a fusão também reacendeu alianças antigas e disputas latentes no cenário estadual.
O movimento mais emblemático foi o convite feito pelo ex-senador Tasso Jereissati (PSDB) a Ciro Gomes (PDT) para que ele se filie ao novo partido oriundo da fusão. O próprio Ciro revelou o convite durante um encontro com parlamentares da oposição, na Assembleia Legislativa, na última terça-feira (6).
O gesto de Tasso reacende uma aliança histórica e traz à tona especulações sobre um possível retorno de Ciro à disputa pelo Governo do Estado — possibilidade que ele mesmo não descartou na conversa com deputados estaduais.
Nos bastidores, o movimento é interpretado como incerto e visto como uma tentativa de agitar o cenário político local, já tumultuado com o anúncio da federação entre União Brasil e PP, que também terá reflexos no Ceará.
Se, em Brasília, o tom é de conciliação entre os dois partidos, no Ceará o clima esquentou e gerou desconforto. O epicentro da tensão é a disputa pelo controle da nova sigla.
De um lado, o grupo ligado a Tasso afirma que o comando local será dos tucanos e que o partido adotará uma postura de oposição. De outro, o Podemos, atualmente alinhado ao governo Elmano e com representação na base aliada, defende manter essa condição e reivindica a liderança da legenda no Estado.
A divergência ganhou um novo capítulo com a possibilidade de Eduardo Bismarck — deputado federal ainda filiado ao PDT, mas próximo ao grupo do Podemos — assumir o comando da sigla no Ceará. A tese defendida por interlocutores do Podemos é a de que, nos estados onde apenas uma das legendas tenha representação na Câmara dos Deputados, o comando local caberia a ela.
Neste caso, o partido de Renata Abreu sairia na frente. A interpretação, no entanto, é contestada nos bastidores tucanos, que veem a nova sigla como uma força de oposição liderada por Tasso e seus aliados, incluindo, possivelmente, Ciro Gomes.
Diante das indefinições nacionais e do aumento da temperatura local, lideranças estaduais articulam uma espécie de “pausa estratégica”. A ideia é aguardar o desfecho da fusão e as diretrizes que serão anunciadas pela Executiva nacional das legendas até o mês de junho. Até lá, as conversas devem seguir nos bastidores, com articulações silenciosas.
O movimento que envolve Ciro Gomes e Tasso Jereissati é mais do que uma disputa por comando partidário: é a possibilidade de reconfiguração de forças no Ceará para a eleição de 2026.