A reportagem teve acesso ao relatório final. No documento consta que os suspeitos levavam vida de luxo, debochando das autoridades e dos seguidores que relatavam que 'tinham perdido tudo' no 'Jogo do Tigrinho' e pediam conselhos para parar o vício em apostas.
Os suspeitos chegavam ainda a prometer pix aos seguidores, mas na maior parte das vezes não faziam as transferências. Juntos, os suspeitos faziam movimentações financeiras de valores milionários.
As defesas dos suspeitos não foram localizadas pela reportagem.
Empresários por trás das plataformas bancavam viagens para destinos luxuosos, como Miami, Dubai e Maldivas, se os suspeitos 'batessem uma meta' de dinheiro colocado pelos seguidores dentro das plataformas.
Em uma das conversas analisadas pelos investigadores, uma influenciadora chegou a dizer: "vamos ser pilantras também", se referindo à divulgação das apostas. Em outra ocasião, uma das indiciadas falou que tinha parado a divulgação por um tempo "porque Deus tinha tocado no seu coração".
De acordo com a Polícia, dentre os crimes pelos quais o grupo foi indiciado estão estelionato, lavagem de dinheiro, crime contra a economia popular, crime contra o consumidor e por integrar organização criminosa.
Para a Polícia, de acordo com as investigações, "não há dúvidas que eles se associaram com o fim de praticar crimes de estelionato, crimes contra a economia popular e crimes contra o consumidor relacionados à exploração e divulgação de plataformas de cassino online não autorizadas no país, cujas penas superam 4 anos".
Victória Oliveira, Milena Peixoto e Janisson Moura chegaram a ser presos no último dia 20 de março durante uma operação realizada simultaneamente no Ceará, Maranhão, Minas Gerais e Bahia.
Consta no relatório uma situação na qual Victória Oliveira compartilhou com os demais investigados um áudio recebido de uma seguidora em que esta afirma que está endividada em razão do vício nos jogos online, "chamando a atenção o fato de Victória ainda debochar e reclamar do fato de a seguidora ter lhe mandado mensagem".
VEJA TRANSCRIÇÃO:
"Gente, era simplesmente ela me dizendo que estava viciada em jogo e que tinha uma conta de 3 mil reais pra pagar segunda-feira e que ela gastou 3 mil reais jogando. Que queria um conselho pra parar de jogar porque o marido dela não sabia, pois se o marido soubesse ia separar dela. Que ninguém sabia. E que queria um conselho meu, ou se eu pudesse ajudar ela com uma quantia. Ela não sabe o que fazer, diz que faz dois dias que não joga. Ah, meu Deus. Agora, como diabo essa menina conseguiu meu número. Gente, juro, eu só respondi porque achei que era alguma coisa relacionada a Antônio Neto. Ah, meu Deus, ela fez um escândalo. Se eu soubesse que era isso. Meu Deus do céu" (sic).
A Polícia destaca que "o lucro obtido com a atividade criminosa e sem a necessidade de trabalhar é tão grande que Victória Oliveira afirma que tem medo de parar de divulgar as plataformas, sua principal fonte de renda no momento e que tem sustentado sua vida de luxo".
Já Milena Peixoto e Janisson Moura "chegaram a proferir a expressão 'to nem aí', evidenciando absoluto desprezo às leis" quando a influenciadora e empresária Deolane Bezerra foi presa.
Segundo as investigações, os influenciadores utilizavam uma "conta demo" ou "conta teste" que era fornecida pelos donos de plataformas que só apresentam lucros.
"Então, seriam lucros irreais que seriam divulgados nas redes sociais aos seguidores e fazendo com que eles apostassem, criassem novos cadastros nessas plataformas. Divulgando cada vez mais aquela vida de ostentação", explicou Giovani Moraes, delegado do Núcleo de Inteligência de Juazeiro do Norte.
Além das capturas e das apreensões de carros de luxo, a Polícia afirmou que foram bloqueadas as contas bancárias dos suspeitos.
A investigação sobre o caso teve início em maio de 2023, quando as autoridades começaram a acompanhar a rotina dos alvos, que são influenciadores digitais e, basicamente, gravavam vídeos com ganhos fictícios em plataformas de cassino online e publicavam nas redes sociais para captar um número maior de apostadores.