A psicanalista lembra que a escola decidiu estender o projeto e ela passou a fazer atendimentos individuais e em grupo para dar suporte aos jovens. Nesse contexto, ela soube que uma das alunas estava grávida.
Ao conversar com a menina, ela descobriu que a adolescente havia engravidado em uma “roleta russa”, praticada em uma festa feita entre alunos do ensino médio, fora das dependências do colégio.
“Essa é uma prática que acontece entre jovens e adolescentes. Não é um relato tão incomum quanto pareceu. Por isso fiquei surpresa em ter viralizado. Eu fiquei assustada [com a repercussão]. É engraçado porque parece que existe um limbo entre o mundo dos adultos e o mundo dos adolescentes. Eu já percebia, mas [depois da repercussão] ficou claro o quanto existe um abismo”, afirma a profissional.
Após a descoberta, a psicanalista disse que levou para a diretoria a necessidade de implantar um projeto mais voltado à educação sexual dos estudantes.
“A escola já tinha uma preocupação de ter esse apoio emocional para os jovens. Depois desse acontecido, aplicamos uma pesquisa para entender a vida sexual dos alunos e criamos um programa de educação sexual”, contou.
Para Andréa, o sexo não deve ser um assunto temido nas escolas e na relação entre pais e filhos adolescentes. O tema deve ser tratado sem tabu e com informação.
“Sexo ainda é um tabu muito grande. É um assunto pouco abordado nas famílias, nas escolas, nas instituições. E [quando é falado] ainda é de forma muito científica, catedrática. Quando você conversa de igual para igual, tem atendimentos individualizadas e entende o mundo dos adolescentes, eles se sentem mais à vontade para falar e a conscientização é muito maior”, disse.
Andréa afirma que é essencial que os pais construam uma relação de proximidade com os filhos, mas que não deixem de estabelecer limites. Ela conta que, ao atender adolescentes entre 12 e 18 anos, percebeu como a faixa etária é vulnerável e precisa de apoio emocional.
“Hoje em dia, a liberdade dada aos jovens é confundida com abandono emocional. A adolescência é um limbo entre a infância e vida adulta. Nesse limbo, o ser humano está sujeito a várias influências. Se ele não tem referência, apoio e limite, ele vai cair em várias armadilhas, desde desafios nas redes sociais a um comportamento sexual disfuncional”, disse.
“O adolescente é vulnerável e vai buscar em algo ou alguém a quem se apoiar. Por isso, pais, escolas e instituições têm que estar próximos e acessar eles de alguma forma para orientá-los. Não dá para controlar tudo, mas dá para a gente entender que mundo é esse deles e como podemos ajudar”, acrescentou.