Como escrevi ontem (01.07) na matéria PARA ONDE VAI A RELAÇÃO DE LULA COM O CONGRESSO?, o caso do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) colocou o governo Lula e o Congresso Nacional em um clima acirrado de confronto como nunca antes. Como disse o próprio presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta (Republicanos-PB), a judicialização da questão levada ao STF terá consequências e provocará a ingovernabilidade do governo petista.
No texto, indaguei até onde essa crise política que parece incontornável seguirá sem que os parlamentares fisiológicos do Centrão arreguem e voltem à sua postura de cega subserviência. Pois bem. Ontem mesmo, o presidente do Senado Davi Alcolumbre (UB-AP), contrariando a corrente oposicionista que ora se forma no Congresso com a adesão da maioria do Centrão, disse que é legítimo o direito do governo Lula de levar o caso do IOF para o STF. Segundo ele, "O governo tem legitimidade de tomar qualquer decisão".
Essa posição de Alcolumbre o coloca em confronto direto com a visão da maioria esmagadora dos parlamentares que veem o encaminhamento da questão pelo governo Lula, através da AGU, como um completo desrespeito ao Congresso que passa pela anulação do poder deliberativo das duas Casas legislativas.
Ao contrário da maioria dos seus pares, Alcolumbre não se deixa levar pela descida de ladeira de Lula perante a opinião pública, pelo descaso do governo com as emendas parlamentares nem com a intromissão do STF em decisões inerentes e circunscritas ao Congresso Nacional. Alcolumbre tem interesses bem particulares que coloca em primeiro plano.
Por um lado, ele pode tornar-se alvo preferencial, caso ingresse na oposição, da Operação Overclean da Polícia Federal que investiga um esquema de corrupção encabeçado por uma organização criminosa formada por parlamentares congressistas e empresários. O nome de Alcolumbre é citado na investigação.
Por outro, o presidente do Senado é beneficiado diretamente pelo governo Lula com cargos-chave nas estatais e nas agências reguladoras. Como disse o próprio Lula, estatais não são dão para dar lucro.
Assim, o mais provável é que Alcolumbre siga boicotando as iniciativas da oposição e blindando o governo Lula. Mas qual será o custo político dessa postura subserviente e contrária ao atual estado de ânimo do Congresso nacional?