No dia 5 de maio, em minha coluna Poucas e Boas, seguindo a linha de pensamento do vaticanista Marco Politi, afirmei que o novo papa seria uma autoridade eclesiástica conservadora que uniria a Igreja dividida, ou seja, nem um novo Francisco nem um conservador radical. Hoje trocaria a palavra radical por sectário, para ser mais preciso.
Marco Politi estava correto. Ao eleger Robert Francis Prevost sucessor do papa Francisco, o Conclave pensou na unidade católica ameaçada em sua superestrutura.
O estadunidense e também cidadão peruano Prevost, poliglota e excelente diplomata, era visto como um cardeal capaz de reaproximar países como Itália e EUA do Vaticano e de defender os humildes sem heterodoxizar o catolicismo.
Ontem (1º de junho), diante de milhares de famílias na Praça de São Pedro, no Vaticano, Leão XIV defendeu, mais uma vez, a família cristã como uma unidade formada por um homem e uma mulher e, mais uma vez, atacou o aborto.
Referindo-se à família, usou como base a Humanae vitae, encíclica escrita pelo papa Paulo VI, em 1968, que fala de matrimônio e natalidade: "Com o coração cheio de gratidão e esperança, digo a vocês, esposos: o matrimônio não é um ideal, mas o modelo do verdadeiro amor entre um homem e uma mulher: amor total, fiel e fecundo", E alertou para o perigo dos que pensam diferente: "Ao apresentar casais santos como testemunhas exemplares, a Igreja nos diz que o mundo de hoje precisa da aliança conjugal para conhecer e abraçar o amor de Deus e superar, com seu poder unificador e reconciliador, as forças que destroem relacionamentos e sociedades".
Sobre o aborto, Leão XIV afirmou: "É verdade que, às vezes, esta humanidade é traída. Por exemplo, quando é invocada a liberdade não para dar a vida, mas para tirá-la; não para proteger, mas para ferir. No entanto, mesmo diante do mal que divide e mata, Jesus continua rezando ao Pai por nós".
Com Leão XIV, pelo que está posto, não haverá, dentro da Igreja Católica, lugar para as feministas que colocam crucifixo na vagina ou no ânus ou se despem em frente às igrejas, como não haverá espaço para os artistas que em nome da liberdade de criação atacam o catolicismo colocando Jesus beijando Satanás ou pintando Jesus de rosa.
Quando Prevost, já Leão XIV, fez elogios eloquentes ao recém-falecido Francisco, os católicos de tendência woke interpretaram erroneamente que o novo papa seguiria o caminho da liberação sexual. Engano proporcionado pela pouca leitura da realidade.
Leão XIII foi considerado revolucionário, com sua Rerum Novarum, por levar ao centro da Igreja Católica a discussão sobre as condições dos trabalhadores e a justiça social. Entretanto, a encíclica não foi uma sentença de morte ao capitalismo, mas um direcionamento para a humanização das relações sociais de produção.
Durante muitas décadas, foi usada como instrumento teológico de combate ao comunismo, uma vez que incentivou organizações, no seio da Igreja Católica, que cumpriam funções sociais substituindo os sindicatos. Os Círculos Operários, no Brasil, foram exemplos disso.
Leão XIV discursa em defesa da justiça social, mas assim o faz defendendo os princípios norteadores basilares da Igreja Católica Apostólica Romana. Bem sabe o novo "Bispo de Roma" que sem esses princípios o catolicismo será alvo certeiro e vítima expugnável de todas as forças inimigas que o cercam, inclusive as existentes no seio da própria Igreja.